quarta-feira, agosto 22, 2007


Computadores para todos...

...e os resultados académicos?

A introdução massiva dos computadores na sala de aula já foi experimentada noutros países, designadamente nos Estados Unidos, em meados dos anos noventa, com o incremento de empresas como a Microsoft e de programas como o Anytime, Anywhere Learning (Rockman et al, 1998).
Os resultados destes programas foram já estudados por especialistas como Penuel, Director de Investigação no Centro de Tecnologias e Aprendizagem da SRI International.
Numa revisão da investigação sobre os efeitos destes programas tecnológicos, publicada no Journal of Research on Technology in Education em 2006, Penuel verifica que a investigação tende a centrar-se sobre quatro tipos de resultados:


  1. a melhoria dos resultados académicos,

  2. a equidade do acesso,

  3. o aumento da competitividade nas regiões em que os programas foram desenvolvidos e

  4. a melhoria da qualidade do ensino.


Dos estudos em que Penuel se baseou, poucos são os que adoptaram planos quase-experimentais, com pré e pós-testes e grupos de comparação, não sendo, por isso muito rigorosos, mas, mesmo assim, Penuel conclui que os resultados mais promissores se situam em duas consequências específicas: um aumento da literacia informática e melhores resultados ao nível da expressão escrita.
Quanto aos resultados académicos propriamente ditos e à excepção das melhorias a nível da escrita, a investigação não é particularmente conclusiva em estabelecer uma causalidade, ou mesmo uma relação de associação entre a utilização de computadores pessoais por parte de alunos e de professores e a melhoria dos resultados académicos, o que confere com a investigação britânica no mesmo domínio, de que a imprensa inglesa fez eco há uns meses.
Ora, o conjunto de estudos revistos por Penuel em 2006, acaba por ser consistente com a investigação anterior sobre as reformas tecnológicas, designadamente quanto aos factores que influenciam a adopção das tecnolgias no ensino, tais como a crença, por parte dos docentes, de que as tecnologias valorizam o currículo, a formação tecnológica dos professores e ainda os apoios tecnológicos providenciados aos estabelecimentos de ensino.


Mesmo que estas três condições adjuvantes se verifiquem, tudo leva a crer que não hão-de ser os computadores a resolver o atraso do país em matéria de instrução, designadamente quanto ao aumento geral da instrução da população e à contenção do abandono escolar precoce e desqualificado.

5 comentários:

Miguel Pinto disse...

Creio que estamos no bom caminho: observo com grande entusiasmo o interesse do governo em mobilizar os professores para a alteração de práticas.

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... Há atrasos que não será exclusivamente um "choque tecnológico" a vencer... "Ele é preciso" outros tipos de choques... e, também, menos "choques" daqueles outros...

Paideia disse...

ÓlhÒMiguel!
Cinco voltas à rotunda da Boa Vista por faltar ao encontro do Meco! E falta injustificada!
:)

Magnificos disse...

Acredito (tive a experiência ao longo do ano lectivo) que as TIC podem ajudar imenso os alunos com problemas de linguagem. Introduzir no 1º ciclo o uso desta ferramenta é essencial.

Anónimo disse...

A ilusão tecnológica já vem de longe. Se nos lembrarmos do que se disse sobre os antepassados dos computadores na sala de aula, estamos conversados. Lembro o retroprojector, o projector de diapositivos, o vídeo e a televisão. A sua utilização na sala de aula mudou as práticas, mudou a relação pedagógica, com a consequente melhoria da aprendizagem dos alunos?
Como li algures, foi apenas a substituição de um discurso por outro discurso.
Desejo ardentemente que "desta vez" não aconteça o mesmo. Mas, pelos resultados dos estudos que refere...