sábado, fevereiro 10, 2007


Incompreendidos e sós



Hans Asperger, psiquiatra austríaco, descreveu pela primeira vez um grupo de jovens, predominantemente rapazes, emocionalmente vulneráveis, habitualmente afectados por stresse e fadiga, com uma memória singular para factos e números e uma inteligência dentro ou acima da média, cuja obsessão por um tema específico pode levá-los a grandes descobertas na vida adulta.
O Síndrome de Asperger é uma perturbação neurobiológica do espectro do autismo, cujo diagnóstico é já possível nos primeiros três anos de vida, permitindo assim uma intervenção precoce. Os indivíduos com este síndrome são geralmente considerados estranhos pelos seus pares, uma vez que são desajeitados, obsessivos, desprovidos de senso comum e de flexibilidade para lidarem com a mudança.
Apesar de alguns traços comuns, cada jovem com síndrome de Asperger tem a sua personalidade e a tipicidade dos sintomas manifesta-se de forma única, pelo que a abordagem educacional, embora possa ser guiada por um conjunto de estratégias gerais, tem de se adaptar às características individuais.
Em traços gerais, as pessoas com síndrome de Asperger têm facetas específicas, em cinco grandes áreas da sua vida pessoal e social: 1) a linguagem, caracterizada por uma prosódia monótona, um vocabulário formal e uma compreensão fraca da comunicação paralinguística; 2) a sensorialidade, habitualmente marcada por uma hipersensiblidade a sons e cheiros, por baixa sensibilidade a estímulos tácteis e fraca coordenação motora; 3) as funções cognitivas, caracterizadas por uma interpretação literal e um pensamento concreto, que condiciona a compreensão de simbolismos e metáforas e principalmente 4) um comportamento social marcado por uma fraca interacção com os pares e um défice de percepção dos códigos sociais.
Como é frequente que estes jovens se recusem a aprender fora do seu limitado campo de interesse e a sua atenção e concentração se guiam por estímulos internos, dando ao adulto a sensação de que se detêm em aspectos irrelevantes, a abordagem educativa tem de ser simultaneamente criativa e muito estruturada. Assim, haverá necessidade de accionar um conjunto de estratégias e soluções educativas, tais como definir o tempo das sessões de trabalho e alternar o ensino em classe com o ensino individualizado, para obviar à lentidão motivada pela fraca concentração; recorrer a programas estruturados de aprendizagem de regras sociais e a frequentes feedbacks e redirecionamentos de atenção, a adaptações na disciplina de educação física, no caso de alterações acentuadas da motricidade grossa, privilegiando um currículo de saúde e forma física, em vez dos desportos competitivos, em que é o jovem com SA é frequentemente rejeitado pelos pares, pela sua fraca coordenação motora, e ainda programas de treino da motricidade fina.
É igualmente importante que o jovem tenha de seguir regras específicas, como por exemplo, só falar do seu assunto especial em determinadas condições, mas, em simultâneo, permitir-lhe explorar esse interesse, enquadrando-o no seu projecto educativo, uma vez que tal lhe dá conforto, segurança e motivação.
Um companheiro compreensivo que esteja junto dele, pode lembrá-lo de voltar às suas tarefas e a prestar atenção, quando se distrai, assim como a brincadeira supervisionada com uma ou duas outras crianças cria oportunidades de praticar as suas competências sociais.
Tal como todos nós, mas de forma muito especial, os jovens com síndrome de Asperger beneficiam de um reforço positivo, direccionado para o comportamento desejado, o que lhes proporcionará um aumento da sua auto-estima, sentindo-se mais produtivos e competentes.

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