terça-feira, janeiro 29, 2008


Sala de Línguas numa manhã clara


- Vamos lá rapazes, deixem-se de brincadeiras. Olhem para as meninas, já estão a trabalhar...
- As meninas, sempre as meninas...
- !!!
- Pois. A professora gosta mais das meninas...
- Não é verdade, sabes bem que não é verdade...
- Professora: as meninas são melhores no estudo, nós somos melhores na bola!
- Digam lá outra vez, escrevam aqui, para eu registar no meu blogue.

- As raparigas pensam que mandam, mas não mandam. Os rapazes são melhores no físico.
Assinado: Frederico e Francisco, palavras de rapazes


A acreditar num estudo de Ian Hay, de 2000, o auto-conceito dos rapazes é mais elevado que o das raparigas, em matéria de aparência e de habilidade físicas; aliás, em termos gerais, os rapazes têm um auto-conceito mais elevado que o das raparigas.

Isto será porque as raparigas são mais realistas e mais auto-críticas? Será um fenómeno inerente ao género ou será mais uma construção cultural?

Há, aliás, quem defenda que, com a feminização da Escola, os rapazes estão em desvantagem mercê, sobretudo, da desafectação dos rapazes à Escola, resultante da falta de figuras masculinas modelares.

Parece-me contudo que esta "desvantagem" está mal explicada, se não mesmo, mal interpretada, uma vez que, na Escola, os fenómenos de identificação dão-se mais entre pares que de alunos com professores.

O facto é que os rapazes reprovam mais, sofrem medidas disciplinares mais pesadas e mais frequentes e estão mais sujeitos a fenómenos de bullying com violência física do que as raparigas.

Voltando aos meus Francisco e Frederico, com que comecei este apontamento: o seu discurso revela uma longa história de rejeição "cool" do esforço académico a favor das "naturais" proezas desportivas e físicas masculinas.

Porém, e ao contrário do que possamos pensar, o "problema com os rapazes" na Escola não é de hoje e começou a ser objecto de estudos sistemáticos nos anos 50, num clima social de crítica dos novos estilos parentais, mais permissivos.

Por outro lado, não há qualquer evidência de que os rapazes bem sucedidos na escola tenham uma ligação muito estreita com os professores. Estes rapazes relacionam-se bem connosco mas, ao mesmo tempo, mudam de professora de um ano para o outro sem preocupações ou dramas.

O Frederico e o Francisco não corresponderão propriamente àquele modelo de rapaz que é a estrela da companhia, exerce bastante influência nas relações sociais e é estimado e admirado por toda a turma: a este padrão corresponde mais o Henrique que, ainda por cima, é bonito e possui uma boa compleição física.

Por outro lado, também não pertencem àquele grupo isolado do resto da turma, mal estimado e olhado com desconfiança: são apenas dois bons malandros a precisar de um reforço de auto-estima.

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