Momentos únicos
Lembras-te daquela turma, daquela aula, daquela situação?
Na nossa vida de estudantes e de professores há sempre uma turma que nos deixa mais e/ou mais fortes impressões que as outras. Pode até não ser das melhores, em termos de rendimento académico ou de satisfação pessoal do docente, mas é aquela turma que nos traz à memória momentos únicos.
A maioria das turmas são muito parecidas entre si: têm um figurão, que anda sempre à procura de atenção e, na maior parte das vezes não conhece, não descobriu ou esconde as suas capacidades, que considera irrelevantes para a função e o contexto, o sei mais que todos, com um toque de crueldade, de sarcasmo,de olha-pr'a-mim-que-sou-a-melhor-e-mais-esperta e que, a propósito de tudo e de mais um par-de-botas, nos chama assim:
Professoraaa, carregando com força na sílaba tónica e arrastando a última sílaba,
tiques atrás dos quais se escondem relacionamentos intrincados, o sedutor, com o seu sorriso charmoso e maroto, sempre à coca de nos convencer que o não fazer o trabalho de casa faz parte do seu charme discreto, o cromo de estudo, que é o moiro de trabalho da turma, atrás do qual mal disfarça as suas dificuldades relacionais, o legalista, geralmente inteligente e perspicaz, mas constantemente frustrado pela sua imaturidade ou dificuldade de afirmação, a Miss Skinny, constante e prematuramente atormentada pelas imposições da moda, da necessidade de ser original, em procura constante da aprovação da mãe, geralmente difícil de contentar e controladora, que só repara nela, quando a perda de peso é evidente. À excepção deste último, predominantemente feminino, qualquer dos restantes subtipos pode manifestar-se em ambos os géneros.É nesta heterogeneidade que se amassa a irrepetibilidade de uma turma e é dela que emanam todas as suspresas, para quem gosta, naturalmente, de ser surpreendido.
A propósito do tema da descrição física, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, com os seus tiques, sorrisos e expressões, soberba, mas gentilmente caricaturados pelos gatos fedorentos, entrou na aula pela mão de João Eduardo.
O João Eduardo é um rapaz inteligente, bem-humorado, preocupado, mas não atormentado (ainda) pela sua baixa estatura, popular e bom aluno (sem excessos, que isto de professoras exigentes, há que mantê-las a distância e sem stress).
Os professores sabem quando uma aula correu particularmente bem, mas nem sempre conseguem explicar porquê e nem sempre as tradicionais teorias da aprendizagem chegam para explicar certos momentos únicos.
Tais momentos, porém, que resultam de o professor ter capacidade e flexibilidade para deixar os alunos tomarem as rédeas da função e da percepção dos alunos que essa fuga à norma vai ser bem aceite, permitida ou meramente tolerada, de explorarem a variedade de actividades e de interactividades susceptível de ocorrer numa sala de aula, excede largamente a panóplia das ferramentas analíticas.
Em princípio, o controlo da aula pertence e compete ao professor. Além de arriscada em termos de resultados, estratégias, conteúdos e objectivos, a flexibilidade exige do professor segurança e disponibilidade para aceitar as necessidades e contribuições dos alunos, o que emana de uma planificação não-linear, susceptível de integrar e de valorizar alterações não previstas. Eu não sei bem se é uma planificação não-linear, se é o sentido de humor ou a abertura para a "desplanificação", que até pode surgir de efeitos não previstos na planificação e que, de repente, o professor - mas também os alunos - descobrem na interacção.
Agora imaginem-me às gargalhadas em plena aula assistida pelo coordenador de departamento...
Há condições?!? A lateralidade do João Eduardo é um risco?
:)
terça-feira, janeiro 29, 2008
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