IC veio à Loja de Informática e comentou:
"Idalina, não estou muito de acordo. Estou de acordo, sim, que muitos alunos não têm hábito de raciocinar e que é preciso treiná-los a elaborarem raciocínios ( e também a reflectirem sobre a plausibilidade de resultados/respostas a que chegam). Mas acho que não é por causa da calculadora que não raciocinam.
Fiz este comentário porque comentadores da nossa praça pública - e até da área da Matemática - andam a bramar contra o uso da calculadora (só dou razão no 1º Ciclo, mas não se limitam a criticar o uso aí) e a insistir no domínio dos algoritmos das operações, como se estes não fossem também aprendidos mecanicamente. E é bom não desviar as "culpas", pois a culpa de os alunos não raciocinarem não é de uma calculadora que apenas lhes faz as contas que eles escolhem "à toa".
Cara IC,
Eu não sou a favor ou contra o uso da calculadora. O que o algum common sense, mas também a teoria do processamento da informação me sugerem é que, quando há conhecimentos registados na memória de longo prazo, tais como, se o quádruplo de 2 são 8, o quádruplo de 3 são 12, a memória de curto prazo reage mais rapidamente, havendo por isso um risco menor de sobrecarga cognitiva e de abrandamento dos processos cognitivos.
Assim, para ter 8 CDs eu precisaria de comprar o quádruplo, o que me daria direito ao quádruplo de 3 capas de CDs, isto é, 12 capas de CDs; por outras palavras, o meu raciocínio funcionaria mais rapidamente estando alguns conhecimentos básicos armazenados na minha memória de longo prazo.
Aliás, problema idêntico de utilização "à toa", como sugeres, da calculadora deu-se no exercício em que os meninos tinham de calcular o preço de um CD. Também neste caso lhes faltou a destreza de raciocínio que os conduziria a resolver facilmente o problema com um mero procedimento de divisão, mas, porque lhes faltaram destrezas básicas, acabaram alguns deles por resolver o problema através de uma multiplicação, em resultado de uma falha confrangedora de raciocínio lógico-matemático, não se apercebendo que um CD não pode custar mais do que uma caixa inteira.
Um pouco mais adiante, com o problema do ângulo recto, deu-se de novo uma falha nos conhecimentos básicos: um ângulo recto mede 90 graus (nível cognitivo: conhecimento). Se, de dois ângulos adjacentes, formando um ângulo de 90 graus, um mede 50 graus, o outro tem de medir 40 graus (nível cognitivo: conhecimento).
Em suma, há conhecimentos básicos que têm de estar armazenados na memória de longo prazo para que o raciocínio flua com facilidade. É esta falta de conhecimentos básicos, essenciais aos processos cognitivos de nível superior, que me preocupa, porque, para compreender, aplicar, ser capaz de transferências próximas ou afastadas, é necessário conhecer.
1 comentário:
Idalina, fiquei enleada com o destaque ao meu comentário, mas até acho óptimo discutir estas coisas ligadas aos alunos e ao ensino.
Concordo absolutamente com tudo o que dizes neste post. Por isso acho muito bem que no 1º Ciclo os professores não permiram o uso da calculadora (a não ser para certas explorações, mas isso não tem a ver com fazerem as contas com a máquina). No entanto, continuo a defender que, nos ciclos seguintes, as causas principais de os alunos falharem por falha de conhecimentos básicos muito pouco tem a ver com terem a calculadora na mão. É todo o ensino da Matemática que não deve ser feito com uma grande predominância de ensino de procedimentos que os alunos memorizam e automatizam ( e muitas vezes isso acontece) - antes de automatizarem, o que também é necessário, é preciso trabalhar com eles a compreensão desses procedimentos e, sobretudo, fazer que apreendam as noções e que se iniciem nos conceitos que, progressivamente, irão elaborando melhor.
Explico-me melhor com um exemplo - o que deste de multiplicar em vez de dividir. Lembro-me bem que, no tempo em que ainda não havia calculadoras nas escolas, era por vezes aflitivo como, num problema simples, alunos do 5º ano (e até do 6º)diziam "divide-se" e, se era errado, diziam "então multiplica-se". Por isso eu disse que a calculadora não era a causa - eles também escolheriam "à toa" a operação se não tivessem a máquina máquina.
Neste exemplo de noções elementares como é o caso de terem ou não apreendido o significado de cada uma das operações da aritmética, não vamos acusar professores do 1º Ciclo; é natural ter que se consolidar essas noções no 5º ano. O que eu quero dizer é simplesmente que os conhecimentos têm que ser compreendidos. E o hábito de raciocinar tem que ser inculcado.
Por exemplo - outro exemplo a nível ainda mais elementar -, o caso da tabuada. Tanto é errado ficar pela memorização sem que tenham a noção do que quer dizer três vezes quatro, como ficarem pela compreensão e terem que perder um tempão, desviando o raciocínio de um problema, para chegarem por adições sucessivas a quanto é 6x9. Não perdem esse tempo se tiverem calculadora, mas, não a terem resolve as questões de fundo?
Bem... a estas horas não sei se a minha 'resposta' saiu de modo a entender-se. Mas não esqueças que comecei por dizer que concordo com o que escreveste neste segundo post.
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