Dos hábitos como segunda natureza
(operari sequitur esse)
Hoje, como em todas as quintas-feiras, foi mais um dia para acompanhar alunos de professores em falta.Na ausência de um plano de aula gizado pela docente, à falta de uma sala de informática onde pudéssemos trabalhar com base nas minhas webquests, e perante uma das alternativas:
Estudar,
exclamaram espantados:
- Estudar?!? Mas não temos nada para estudar!!!
- Não têm nada para estudar, como? Expliquem-me como é que um estudante do 8º. Ano não tem nada para estudar…
As correntes teóricas mais recentes da educação, muito centradas nos aspectos instrumentais do ensino, têm negligenciado o conceito fundamental de hábito.
Estudar,
exclamaram espantados:
- Estudar?!? Mas não temos nada para estudar!!!
- Não têm nada para estudar, como? Expliquem-me como é que um estudante do 8º. Ano não tem nada para estudar…
As correntes teóricas mais recentes da educação, muito centradas nos aspectos instrumentais do ensino, têm negligenciado o conceito fundamental de hábito.
Convencidos que foram que eu não saía dali sem os pôr a estudar e que outro remédio não havia, lá se dispuseram – estamos a falar de uma turma de 8º. Ano – a preparar o espaço de estudo, que entretanto estava atulhado de mochilas e outros gadgets, obviamente altamente dispensáveis para o efeito de uma sala de aula, onde se podiam avistar aqui e ali uns cadernos tresmalhados (Podemos ouvir música?).
Se a educação tem alguma coisa a ver com desenvolvimento pessoal, então é medianamente claro que educar é promover hábitos de trabalho e de raciocínio, porque os hábitos são o prolongamento da nossa natureza essencial, organizam a nossa vida, facilitando-a.
- Dentro de minutos, vou verificar o que cada um está a estudar. E armei-me da minha ficha de recolha de dados.
- !!! - entreolham-se com estranheza.
O ser humano é essencialmente um ser inacabado, na medida em que comporta a sua natureza primeira, aquela com que nasce e ainda uma última, que constitui a activação operativa da primeira, que resulta dos hábitos e que podemos descrever como um prolongamento "ergonómico", resultante do trabalho e do esforço prolongados.
O “borbulhas” que, no início do ano apareceu na Escola com um valente pifo e se sentou lá no fim da sala, espraia-se sonolento sobre o livro de Físico-Químicas e as três horas da tarde não ajudam:
- Vamos lá, queres ajuda?
Aquilo que em educação é nuclear estriba justamente em ajudar esse crescimento, essa expansão do ser-pessoa. (operari sequitur esse)
O “brilhantinas” lá do canto estuda Francês com o livro em pé.
- Estás a estudar Francês em perspectiva?!?
Quando Ortega Y Gasset afirmava que temos uma “vida biográfica”, creio entender por esta expressão que as experiências que vivemos podem activar de um modo ou de outro – ou simplesmente não activar – as nossas capacidades naturais.
Depois de passar por mais dois e oferecer ajuda, aproximo-me e dou-lhe a táctica:
- Agora, vais escrever o condicional do verbo, para ver se já decoraste.
Se educar é potenciar e desenvolver a humanização, o fim da educação é desenvolver uma série de hábitos relativamente coerentes e estáveis, que ajudem o jovem a crescer como pessoa.
Os hábitos adquirem-se através de práticas prolongadas, através da estabilização e consolidação de comportamentos e pela repetição.
- Vocês os dois, o que estão a fazer?
- A recolher informação para a Área de Projecto
- Como?
- A ler, sublinhar e tirar notas.
- Muito bem. Continuem. Se precisarem de algum esclarecimento, peçam.
Os hábitos adquirem-se de uma forma variada e flexível. Uma pessoa com hábitos de estudo, não segue sempre a mesma rotina: umas vezes memoriza, outras, resume, outras, compara, outras esquematiza. Mas todas estas operações têm algo em comum: a diligência, a atenção, o cuidado, o esmero, o brio.
(Toque de campainha, cadeiras que arrastam de rompante)
- ALTO! Vamos com calma… Temos de deixar a sala arrumada. Ó … (borbulhas), arruma a tua cadeira, por favor… Obrigada.
E todos dissemos boa tarde.
Comparando com o ano passado, temos a noite e o dia.
Vamos lá ver se nada vem estragar.
10 comentários:
E tanta falta lhes faz criar estes bons hábitos... Tantas vezes que ouço: ó professora, eu não sei estudar!
Olá, Bell.
Uma visitinha tua é sempre um sininho na torre da minha igreja.
Um abraço.
O problema é que eles até têm hábitos... hábitos de chegarem a casa e irem ver tv, ou para o msn ou jogos de computador... E alterar os hábitos instalados é mais difícil do que criá-los do início.
Já tinha criado o hábito de a ler com uma certa regularidade.
Miss you!
:)
Ana Paula,
Quando o ruído é muito, o melhor é o silêncio.Preciso de calma e de distanciamento.
:)
É sempre com muito gosto que passo por aqui e leio as suas reflexões. Embora as questões da educação dos jovens para mim sejam passado, não deixo de me interessar.
O único hábito que reconheço nos meus alunos é o do mau comportamento; eles praticam muito e bem; suponho que devem ter tais hábitos desde pequenos e que os praticam todos os dias, iniciando em casa e concluindo na escola.
São os hábitos da geração que temos em mãos: desrespeitar o professor.
*Beijinhos*
Os bons e os maus hábitos aprendem-se em qualquer lado.
O problema é quando puxa cada um para seu lado...quer seja em casa como na escola.
Falta uniformização de critérios.
Microondas, não percebi o comentário. Pode desenvolver?
I google-translated your text and loved it. Congrats,
Philip
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