De Tarouca a Montalegre: a instrução de um país assimétrico
De calculadora na mão e com o coração fechado na gaveta, parece que há equipas da educação com mentalidade de funcionários das finanças, com o devido respeito, que cada qual tem a sua função.
Por seu turno, pais e professores deitam contas à vida e não há calculadoras que meçam o esforço familiar, financeiro, físico e psicológico das crianças e das suas famílias
Para as bandas de Tarouca fecharam várias escolas – dura lex sed lex – assim determinaram as calculadoras.
Várzea da Serra, Vilarinho, Teixelo, Eira Queimada e Gouviães encerraram portas: a calculadora registou 20 alunos, mandou-os para Valverde, a terra prometida, onde os meninos estão, do primeiro ao quarto ano, na mesma sala, tal como no tempo da minha tia-avó Maria, nos idos da primeira república.
Os filhos-queridos de suas mães – estamos a falar de crianças maioritariamente entre os seis e os dez anos – deslocam-se doze quilómetros, saem bem cedo de manhã para voltarem a casa, ao crepúsculo.
Provenientes de famílias sem rendimento mensal, sem recibo de qualquer cor, que vivem de uma agricultura de subsistência, de zonas cujas fragilidades estruturais são multifactoriais, com uma política agrícola altamente penalizadora à cabeça, só para o almoço, estas crianças gastam cerca de sete euros semanais, mais o que trazem nas sacolas, para repor as energias exauridas pelo esforço e pelo frio.
No concelho de Montalegre, as crianças deslocam-se de Alturas do Barroso, a segunda maior freguesia do concelho, a noroeste, onde se situa o ponto mais alto da Serra do Barroso, para Boticas, a sede do município; de Alturas é proverbial a frieza invernal (nove meses de Inverno e três de inferno). São cerca de 18 quilómetros de estradas difíceis e de gelo.
Para combater a tal sociedade hedonista nada melhor que uma calculadora e o ar fresco das madrugadas beirãs e barrosãs. E as crianças Senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?