sábado, março 24, 2007

Lidar com a diferença e fazer dela uma oportunidade

O JM já acabou e exercício que eu mandei fazer, enquanto o M. ainda nem sequer começou. M. sofre de hiperactividade e défice de atenção, ultimamente tem andado menos concentrado, demora muito a começar a executar uma tarefa e a meio, pára de vez em quando, distraído e absorto.
- M!... Hallo! Keep going!
Desce à terra, sorri e continua até ao próximo aviso.
Trata-se de uma turma com 28 alunos, maioritariamente rapazes, em que as hormonas, a vivacidade, a traquinice irrompem ao mais pequeno pretexto.
No outro dia, o A., que agora diz a toda a gente que é hiperactivo, com um ar altamente científico, como se isso lhe desse uma importância acrescida, atirou-se da cadeira para o chão e levantaram-se logo 8 (rapazes, pois...) para o "socorrer", como argumentaram.
- Quem tem obrigação de o socorrer se ele estiver mal sou eu! - Sentenciei com ar de militar com pancreatite aguda (desculpem os militares, especialmente os que pululam na minha família).
Não perderam a pose: voltou tudo aos lugares com ar de quem tinha cumprido uma grande missão de salvamento e merecia a medalha de mérito por grandes serviços à nação.
- E agora vão escrever numa folha à parte o que fizeram e reflectir sobre o prejuízo que causaram à aprendizagem.
Chegou-me a primeira versão do "salvamento". Com ar sério - ai meu Deus, quanto me custa o ar sério, quando me apetece rir à gargalhada... - pedi licença, rasguei o "depoimento" e sentenciei: "Quero um depoimento honesto e crítico, que explique as verdadeiras razões por que se levantaram, sem motivo!" (A frase saiu-me um pouco paradoxal, coisas do improviso...)
Mais dois ou três depoimentos rasgados, regresso cabisbaixo à carteira, surge então a segunda versão do depoimento, que serviu de modelo às outras (o que é que tu escreveste? segredava-se).
Assim, com esta eloquência:
"Eu fui ver onde o Afonso estava porque ele caiu e juntou-se muita gente e como brincadeira fui-me lá meter. Por causa de mim e dos meus colegas perdemos tempo de aula, enquanto podia estar a fazer o que a professora mandou. Peço desculpa e não vai voltar a acontecer. Vou fazer os meus possíveis para que da próxima vez não me levante do lugar e não prejudique a aula." Assinado J.G. 16/3/2007.
Isto é pensamento crítico puro e duro. Um pouco sobre pressão, admito, com uma enorme vontade de rir à mistura, por ver o ar dramático do A. estatelado no chão com as pernas no ar. Uma promessa para o teatro cómico.

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